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Editorial | Mostra

Quem tem um amigo tem tudo

Se o poço devorar, ele busca no fundo

É tão dez que junto todo stress é miúdo

É um ponto pra escorar quando foi absurdo

Emicida

O muralista paulistano Eduardo Kobra criou a imagem da 46a Mostra: uma garota que alcança a lua emblemática do filme Viagem à Lua (1902), de George Méliès. Kobra, por sua vez, é retratado no documentário de Lina Chamie, Kobra Auto Retrato, apresentado na seleção deste ano. A imagem de sonho acalenta os tempos conturbados que o mundo atravessa e que estarão refletidos nos mais de 230 filmes a serem apresentados.

Em um ano decisivo para o país, a Mostra apresenta uma grande seleção de filmes brasileiros de cineastas consagrados e novos diretores. E ainda dentro da Mostra Brasil haverá dois recortes reflexivos: Olhares Sobre a Amazônia e Olhares Sobre a Fé. O cinema brasileiro também se faz presente no Prêmio Humanidade da 46a Mostra, que será entregue para a diretora Ana Carolina que, com suas imagens exuberantes, invadiu o cinema brasileiro de supetão. Serão exibidas a sua trilogia composta por Mar de Rosas (1977), Das Tripas Coração (1982) e Sonho de Valsa (1987), e seu mais recente longa- metragem, Paixões Recorrentes.

Revisitamos a história do nosso cinema com a apresentação das cópias restauradas dos filmes Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), A Rainha Diaba (1973) e Agulha no Palheiro (1953), esse último com uma sessão especial com a presença da atriz e cantora Dóris Monteiro, homenageada do ano com o prêmio Leon Cakoff. E ainda para destacar a importância da história do cinema mundial, apresentamos as aguardadas cópias restauradas de dois filmes de Jean Eustache: A Mãe e a Puta (1973) e Meus Pequenos Amores (1974). E do Tajiquistão receberemos o clássico Bratan (1991), de Bakhtyar Khudojnazarov, também restaurado.

Mas a Mostra exibe principalmente o que há de mais novo e significativo no audiovisual internacional: trabalhos de diretores consagrados e de novos autores, com obras vindas de mais de 60 países. Serão apresentados os ganhadores dos festivais de Cannes, Berlim e San Sebastián; além de filmes premiados em vários outros festivais como Veneza, Locarno e Sundance.

Grandes cineastas que já estiveram presentes em outros anos da Mostra enviarão os seus novos trabalhos. Entre eles, estão Marco Bellochio, Aleksander Sokurov e Jafar Panahi, que recebeu o prêmio do júri em Veneza, mas que infelizmente continua na prisão do seu país.

Dois realizadores que nos deixaram neste ano terão filmes exibidos em sua homenagem: Jean-Luc Godard é protagonista do filme, Até Sexta, Robinson, de Mitra Farahani, e Arnaldo Jabor será homenageado com a apresentação de Eu Te Amo (1981). Na ocasião da projeção de Eu Te Amo teremos oportunidade de ver trechos do depoimento de Jabor ao ciclo Filmes da Minha Vida.

Mas, além de reencontrar os artistas de sua preferência, o público, como acontece todos os anos, poderá se aventurar por caminhos desconhecidos e descobrir as surpresas que aguardam os espectadores que, depois de dois anos, poderão, enfim, voltar a viver essa experiência coletivamente, na sala de cinema. A sessão de VR (Realidade Virtual), só possível presencialmente, volta à Mostra depois de dois anos de ausência, com trabalhos internacionais e brasileiros.

O que também é retomado é o Encontro de Ideias que, nesta segunda edição, abrigará o VI Fórum da Mostra; o VI Da Palavra à Imagem, com o Pitching e mesa sobre o tema; e o II Encontro de Negócios. As atividades, que abordam o audiovisual nos seus aspectos criativos, mercadológicos e políticos, acontecerão na Cinemateca Brasileira de 26 a 29 de outubro. Ah e, é claro, viva a reabertura da Cinemateca, que também volta a integrar o circuito da Mostra!

E se conseguimos chegar até aqui foi graças aos nossos patrocinadores, parceiros e apoiadores que seguem ao nosso lado para realizar mais uma Mostra. Pela primeira vez, contamos também com um grupo de Patronos, os amigos da Mostra, iniciativa nascida da ação de amigos do audiovisual e que permitiu à Mostra chegar forte à sua 46a edição.

Agradeço muito à equipe da Mostra, aos amigos de longa data e aos novos que se juntaram no caminho.

Uma ótima Mostra a todos e que ela possa ser uma boa amiga para seu público!

Renata de Almeida